domingo, 24 de dezembro de 2006

Autopsicographia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Fernando Pessoa

2 comentários:

MM disse...

Como é que ninguem comentou este?
Sem duvida dos melhores poemas de FP...so nao é o meu preferido porque é impossivel escolher um só, entre tantos tao bons!

um beijinho colega!

Jussara disse...

Em nossas poesias podemos sangrar sem que nos tenham nojo ou pena...